Mulheres denunciam exclusão, misoginia e ‘clubinho de homens’ no mercado editorial
- 27/01/2025
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“Se não tem mulher editando, vai ter menos mulher publicada”, diz Joana Montelone – Foto: Arquivo pessoal
O teto de vidro, para ela, é parte de um problema mais amplo, onde um “clubinho fechado de homens” é responsável pelas decisões, ocupa os maiores postos e até as premiações do mundo literário, fazendo com que a influência deles seja a que mais sobressaia.
Não há um dado oficial sobre o número de mulheres no topo da hierarquia de editoras. Mas é possível ter uma ideia. Recentemente, o site PublishNews ouviu 16 CEOs e representantes das maiores editoras do país sobre expectativas para o ano de 2025. Apenas seis eram mulheres.
Um estudo do Sindicato Nacional dos Editores de Livros apontou que mulheres ocupam cargos de liderança em 87% das editoras entrevistadas. O dado parece indicar um cenário positivo, mas ele é contestado por um especialista no mercado editorial, que também não quis se identificar. “Esse número é condizente quando você leva em conta lideranças diversas dentro das empresas, como de um setor específico, ou até cargos como editora-executiva. Mas, quando a gente pega presidentes, CEOs e sócios, o número é menor, certamente”, afirma.
Lella Malta aponta para as raízes do machismo estrutural no mercado editorial. “Apesar de sermos maioria tanto entre os leitores quanto entre os profissionais da área, mesmo ainda não ocupando a maioria das posições de liderança, o protagonismo feminino muitas vezes é apagado ou subestimado”, diz, citando como exemplo que gêneros considerados femininos geralmente são colocados como “menores”.
“Não é só a dificuldade de sermos ‘levadas a sério’, mas também o assédio e a invalidação da nossa escrita, dos nossos posicionamentos. Quantas vezes a gente vê mulheres, sejam autoras, editoras, tradutoras, ou até críticas literárias, tendo suas ideias ignoradas ou, pior ainda, apropriadas?”, pergunta.
Além do “Elas publicam”, Malta também idealizou o projeto “Escreva, garota!”, que capacita mulheres que escrevem para enfrentar o mercado editorial de cabeça erguida. “Quando penso nos dois, vejo espaços seguros para que possamos nos acolher, nos profissionalizar, empreender. Quem dera não precisássemos deles”, lamenta.
Uma das saídas para a maior representatividade no setor é criar editoras e livrarias comandadas por mulheres desde a sua base. “Hoje há uma nova leva de editoras e livrarias fundadas e lideradas por mulheres (na maioria branca, ainda), o que era raro dez anos atrás. Temos liberdade de publicar o que desejamos, sustentar nosso posicionamento, criar redes de troca e parcerias, influenciar o debate público. Ainda assim, o mercado como um todo permanece bem masculino e a misoginia segue correndo solta”, afirma Florência Ferrari.
por: Folha de Dourados
foto: Retha Ferguson/Licença Creative Commons